terça-feira, 10 de junho de 2025

Pensares sobre o Ambiental - 2

 A Economia Ambiental em Perspectiva: Do Custo à Oportunidade


Gemini da Google e Francisco Quiumento 


A maneira como uma sociedade enxerga o meio ambiente é um espelho de seu próprio destino. Por tempo demais, a relação predominante entre economia e ecologia foi pautada por uma visão distorcida: a natureza como um mero recurso a ser explorado e, no máximo, um custo a ser minimizado. No entanto, o cenário atual de crises climáticas, perda de biodiversidade e escassez de recursos naturais impõe uma mudança radical de lente. É imperativo que a humanidade transicione, de forma urgente e consciente, da mentalidade de "custo" para a de investimento ambiental, reconhecendo o valor intrínseco e os benefícios econômicos e sociais incalculáveis que a sustentabilidade pode gerar.

Essa transição não é apenas uma escolha econômica; é um imperativo ético e moral. A ética da sustentabilidade nos convida a considerar a responsabilidade intergeracional: como nossas ações hoje afetarão as gerações futuras. Ignorar os impactos de longo prazo da exploração desenfreada é uma forma de inação que tem profundas implicações morais, legando um planeta menos habitável e com menos oportunidades para aqueles que virão.

A miopia de ver o ambiental como um encargo, e não como um ativo, também alimenta a injustiça ambiental. Comunidades marginalizadas são frequentemente as primeiras a sofrer as consequências da poluição, do desmatamento e das mudanças climáticas, mesmo sendo as menos responsáveis por esses problemas. Essa distribuição desigual dos ônus ambientais é uma consequência direta de uma perspectiva que privilegia o lucro de curto prazo sobre o bem-estar coletivo e a equidade social.


Imagem que justapõe um ambiente degradado com um ecossistema revitalizado.


Exemplos

Uma Nova Visão (e do Preço da Antiga)

Ao longo da história e em diversos cantos do mundo, podemos observar como a adoção (ou a rejeição) dessa nova perspectiva moldou destinos. Países que investiram pesadamente em energias renováveis, como a Dinamarca e a Alemanha, não apenas reduziram suas emissões, mas também criaram novas indústrias, empregos e tecnologia de ponta, tornando-se líderes em um mercado global em ascensão. Seus resultados econômicos e ecológicos demonstram que a sustentabilidade é um motor de inovação e prosperidade.

Em contrapartida, nações ou regiões que persistiram em modelos extrativistas e poluentes enfrentaram e continuam enfrentando severas consequências. Desde a poluição industrial que devastou ecossistemas e a saúde pública em certas regiões da China no século XX, até a dependência excessiva de combustíveis fósseis em economias que hoje lutam para se diversificar, esses exemplos ressaltam o alto preço da inação e da visão de curto prazo. As catástrofes naturais intensificadas pelas mudanças climáticas – como as secas prolongadas na África subsaariana ou as inundações sem precedentes em regiões urbanas densamente povoadas, inclusive no Brasil – são lembretes brutais de que a natureza cobra o valor da conta quando seu valor não é reconhecido a tempo.

A verdadeira virada de chave acontece quando entendemos que investir na natureza é investir em capital humano, em saúde pública, em segurança alimentar e, em última análise, em resiliência econômica. Não se trata de uma escolha entre prosperidade e proteção ambiental, mas de reconhecer que a prosperidade duradoura é intrinsecamente ligada à saúde do planeta.

O Preço da Inação e o Retorno do Investimento

Para ilustrar essa dicotomia entre custo e investimento, podemos olhar para realidades bem distintas.

No polo positivo, a Costa Rica se destaca. Há décadas, o país vem investindo na conservação de suas florestas tropicais, na produção de energia renovável (mais de 98% de sua eletricidade vem de fontes limpas) e no desenvolvimento do ecoturismo. Longe de ser um "custo", essa abordagem transformou o meio ambiente em um ativo econômico estratégico. O ecoturismo é uma das maiores fontes de receita do país, atraindo milhões de visitantes anualmente. A conservação da biodiversidade não só preserva serviços ecossistêmicos vitais, como a água e a polinização, mas também posiciona a Costa Rica como um líder global em sustentabilidade, atraindo investimentos e talentos. Os dados mostram que, enquanto seu PIB cresceu, a cobertura florestal do país também aumentou significativamente, demonstrando que crescimento econômico e conservação podem andar de mãos dadas.

Em contraste, regiões dependentes de indústrias extrativas sem regulamentação adequada, como algumas áreas de mineração ou agronegócio intensivo na Amazônia brasileira, frequentemente exemplificam o custo catastrófico da visão de curto prazo. O desmatamento para a criação de pastagens ou plantações, a poluição de rios por garimpo ilegal e a degradação do solo resultam em perdas econômicas a longo prazo: erosão, redução da produtividade agrícola, contaminação de fontes de água potável e a perda irreversível de biodiversidade. Além disso, as chuvas intensas e enchentes mais frequentes, como as que o Brasil tem enfrentado nos últimos anos (em São Paulo, por exemplo, ou mais recentemente no Rio Grande do Sul), exacerbam esses problemas, gerando bilhões em prejuízos anuais e deslocamento de populações. Esses eventos são, em grande parte, consequências de uma inação passada em relação ao planejamento urbano e à proteção de áreas de risco, revelando o alto custo de não se investir na prevenção e na adaptação.

Mecanismos de Transição: Transformando Custos em Oportunidades

A transição de uma economia extrativista e poluente para uma economia verde e sustentável não acontece por acaso; ela é impulsionada por mecanismos e políticas bem definidos.

  1. Políticas Públicas e Regulamentação: Governos podem implementar legislações ambientais rigorosas, como limites de emissão, normas de descarte de resíduos e áreas de proteção ambiental. A criação de mercados de carbono (cap-and-trade systems) ou impostos sobre o carbono são exemplos de como custos ambientais podem ser precificados e incentivados a serem internalizados pelas empresas.

  2. Incentivos Econômicos: Subsídios para energias renováveis, financiamentos verdes para empresas sustentáveis, deduções fiscais para investimentos em tecnologias limpas e linhas de crédito com juros baixos para projetos de ecoeficiência. Países da União Europeia, por exemplo, têm investido pesadamente em fundos de recuperação pós-pandemia com foco na transição energética e na economia circular.

  3. Investimento em P&D e Inovação: Fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias que permitam produzir mais com menos impacto, como materiais biodegradáveis, processos industriais mais limpos e soluções para captura de carbono.

  4. Educação e Conscientização: Aumentar a alfabetização ambiental da população e do setor produtivo, mostrando os benefícios econômicos e sociais da sustentabilidade. Isso inclui desde a educação formal nas escolas até campanhas informativas e treinamentos para empresas.

A Injustiça Ambiental: O Lado Sombrio da Inação

A inação ambiental e a perspectiva de curto prazo sobre o "custo" do meio ambiente têm uma face particularmente cruel: a injustiça ambiental. Este conceito se refere à distribuição desproporcional dos ônus ambientais entre diferentes grupos sociais, geralmente afetando comunidades de baixa renda, minorias étnicas e populações indígenas.

Historicamente, indústrias poluentes e aterros sanitários são frequentemente localizados em bairros mais pobres ou próximos a comunidades marginalizadas, que têm menos poder político para resistir. Essas populações são as que mais sofrem com a poluição do ar e da água, a contaminação do solo e a exposição a toxinas, resultando em taxas mais altas de doenças respiratórias, câncer e outras enfermidades.

A responsabilidade intergeracional também se manifesta aqui. As gerações passadas, ao priorizar o desenvolvimento a qualquer custo, deixaram um legado de degradação ambiental cujas consequências recaem desproporcionalmente sobre as gerações mais jovens e sobre aqueles que têm menos recursos para se adaptar.

A inação em proteger o meio ambiente, como mencionamos, é uma falha moral. Quando essa inação resulta em danos ambientais que afetam principalmente os mais vulneráveis, ela se torna uma grave injustiça social. A luta pela sustentabilidade, portanto, é indissociável da luta por equidade e justiça.


Extras

PIB e Cobertura Florestal - o Caso Costa Rica

A análise do comportamento da cobertura florestal e do Produto Nacional Bruto (PNB) da Costa Rica, entre 1961 e 2010, oferece uma ilustração contundente de como a visão de "investimento ambiental" se traduz em resultados concretos. Observa-se que, após uma queda inicial na cobertura florestal de aproximadamente 50% em 1961 para 20% em 1987, o país iniciou uma recuperação consistente de suas florestas, que atingiram novamente mais de 50% por volta de 2005-2010. Paralelamente a essa recuperação ambiental, o PNB da Costa Rica demonstrou um crescimento constante ao longo de todo o período, com uma aceleração notável a partir de 1987, coincidindo com o início da recuperação florestal.

Este padrão notável demonstra que é plenamente possível ter crescimento econômico e, ao mesmo tempo, recuperar e aumentar a cobertura florestal. O caso da Costa Rica reforça a ideia de que o investimento ambiental não deve ser encarado como um custo, mas sim como um gerador de bem-estar social e de prosperidade duradoura.


O Custo transformado em Investimento

O gráfico "Environmental Protection vs. Economic Growth" ilustra a complexa dinâmica da percepção pública nos Estados Unidos sobre a prioridade entre a proteção ambiental e o crescimento econômico, abrangendo o período de 1984 a 2023. Ao longo dessas quase quatro décadas, observa-se uma oscilação nas prioridades, com picos de preferência pela proteção ambiental nos anos 90 e, mais recentemente, em 2020, enquanto o crescimento econômico ganha destaque em momentos de incerteza, como por volta de 2010. A importância desse gráfico para a nossa discussão reside em sua capacidade de revelar que, embora a interdependência entre economia e ecologia seja inegável, a sociedade ainda lida com uma percepção de tradeoff, o que sublinha a necessidade contínua de educação e políticas que demonstrem que o investimento em sustentabilidade não é um custo, mas sim um pilar fundamental para a prosperidade duradoura e resiliente.




A integração Ambiente - Energias Renováveis 

- A excelência da energia eólica nesse aspecto


https://www.producaodebiodiesel.com.br/energia-alternativa/descubra-as-vantagens-e-desvantagens-da-energia-eolica 

“A energia eólica provém da energia solar, uma vez que os ventos são originados em decorrência do aquecimento desuniforme da atmosfera pela radiação solar. Essa desuniformidade no aquecimento da atmosfera é causada, principalmente, pela orientação dos raios solares e pelos movimentos do planeta” - Antônio Leite de Sá, professor do Curso CPT a Distância e Online Energia Eólica - Para Geração de Eletricidade e Bombeamento de Água.

A energia eólica representa uma das formas mais promissoras de integração energética com o meio ambiente, por ser uma fonte renovável que utiliza a força dos ventos para gerar eletricidade. Ao contrário das fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis, a geração eólica não emite gases de efeito estufa ou outros poluentes atmosféricos durante sua operação, contribuindo significativamente para a mitigação das mudanças climáticas. Os parques eólicos, embora exijam uma área considerável para instalação, podem coexistir com atividades agrícolas e pecuárias em muitos locais, minimizando o impacto sobre o uso da terra. Além disso, a tecnologia eólica está em constante aprimoramento para reduzir impactos visuais e sonoros, bem como para proteger a avifauna. Sua integração eficaz é crucial para a transição para uma matriz energética mais limpa e sustentável, alinhando o desenvolvimento econômico com a proteção ambiental.

Leituras recomendadas

Costa Rica's Forest Conservation Pays Off -November 16, 2022

https://www.worldbank.org/en/news/feature/2022/11/16/costa-rica-s-forest-conservation-pays-off  

Costa Rica - Tropical forests: A Motor for Green Growth - Río +20 The future we want - June 2012

https://www.fonafifo.go.cr/media/1554/cr-tropical-forests.pdf  

Ekins, P., Zenghelis, D. The costs and benefits of environmental sustainability. Sustain Sci 16, 949–965 (2021). https://doi.org/10.1007/s11625-021-00910-5

https://link.springer.com/article/10.1007/s11625-021-00910-5 


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