quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Microplásticos 26 - Futuras expansões 3

Microplásticos nos oceanos polares


Amostras de oceano aberto apresentaram densidades consistentemente maiores do que amostras costeiras, com as maiores concentrações encontradas nos oceanos polares, confirmando estudos empíricos e teóricos anteriores. As partículas eram predominantemente microfibras (91%) e 0,1–1,5 mm de comprimento (77%), um tamanho menor do que as capturadas na maioria dos estudos de superfície. Usando microespectroscopia FTIR, técnica de espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier, foi determinado os tipos de materiais de 113 peças, sendo 57% classificadas como sintéticas, 12% como semissintéticas e 31% como não sintéticas. As amostras foram coletadas globalmente, incluindo de ambientes costeiros e regiões oceânicas pouco estudadas. Alguns desses locais estão emergindo como áreas de plástico flutuante concentrado e detritos antropogênicos, influenciados pela má gestão de resíduos distantes e/ou deposição de partículas transportadas pelo ar. A incorporação de microfibras de tamanho menor em modelos oceanográficos, o que tem faltado, ajudará a entender melhor o movimento e a transformação de micropartículas sintéticas, semissintéticas e não sintéticas em mares regionais e bacias oceânicas.


Barrows, A.P.W., et al. 2018.”​Marine environment microfiber contamination: Global patterns and the diversity of microparticle origins” ​Environmental Pollution. 237: 275-284.



Microfibras no ambiente marinho


Apesar de sua representatividade, a maioria dos estudos até o momento subestimou a quantidade de microfibras (MFs) no ambiente marinho. Portanto, pesquisas adicionais ainda são necessárias para identificar os principais processos que governam a distribuição de MFs. A interação entre temperatura da água superficial, salinidade, correntes e ventos explicou os padrões de acumulação de MFs. A densidade estimada de MFs flutuantes é de ∼5900±6800 itens por m3 no oceano global e alguns modelos para os padrões de acumulação têm sido propostos: (i) densidades intermediárias em giros oceânicos, Mares do Japão e de Okhotsk, Mediterrâneo e ao redor do Oceano Antártico; (ii) altas densidades no Oceano Ártico; e (iii) zonas pontuais de maiores densidades dentro dos Mares Árticos. Áreas costeiras e sistemas de ressurgência têm baixo potencial de acumulação. Ao mesmo tempo, prevê-se que zonas de divergências entre ventos de oeste e ventos alísios, localizadas acima dos giros oceânicos tropicais, acumulem MFs. Além disso, é provável que o ramo quente da circulação termohalina [Nota] tenha um papel importante no transporte de MFs em direção ao Oceano Ártico, enfatizando que as massas de água superficiais são importantes preditores. Destaque-se que o Oceano Ártico mostra-se como um “beco sem saída” para MFs flutuantes.


Nota: Circulação termohalina é um processo crucial que movimenta água e calor através dos oceanos do mundo, influenciando o clima global. É impulsionada pelas diferenças de densidade da água do mar, causadas pelas variações de temperatura (termo) e salinidade (halina). Água mais fria e salgada é mais densa e tende a afundar, enquanto água mais quente e menos salgada é menos densa e tende a subir, criando um ciclo global de circulação. 

 

Lima, A.R.A., et al. 2021 “Global Patterns for the Spatial Distribution of Floating Microfibers: Arctic Ocean as a Potential Accumulation Zone.” Journal of Hazardous Materials. 403: 123796.



Microplásticos no Oceano Antártico

 

Em uma análise sobre a poluição por microplásticos no Oceano Antártico, foi constatado que, embora as emissões de navios e estações de pesquisa sejam negligenciáveis em escala regional, elas podem ter um impacto significativo em nível local. Isso foi comprovado pela primeira detecção de microplásticos em sedimentos próximos a estações de pesquisa na Ilha Rei George. A grande diferença entre os baixos níveis de poluição local e as altas concentrações de microplásticos já registradas na região sugere que a principal fonte de poluição é o transporte de partículas vindas de latitudes mais baixas. Diante da falta de dados, o estudo ressalta a necessidade urgente de mais pesquisas e de um monitoramento padronizado e rotineiro do sistema marinho antártico.[Waller, 2017] 



Apesar de sua geografia isolada e da barreira natural da Corrente Circumpolar Antártica, estudos recentes demonstram que a poluição por microplásticos já chegou ao continente e a suas espécies.[Kelly, 2020] O transporte dessas partículas ocorre por três mecanismos principais: a atividade humana local (estações de pesquisa, pesca e turismo), fatores físicos e climáticos (correntes oceânicas e vento) e o biotransporte realizado por animais migrantes.[Derraik, 2002; Thompson, 2004]


A poluição já afeta a fauna e os ecossistemas locais. Em laboratório, foi demonstrado que o krill antártico consegue transformar microplásticos em nanoplásticos através da digestão.[Dawson, 2018] Além disso, a presença de microplásticos foi confirmada em ecossistemas terrestres (no trato digestório de artrópodes), no gelo (que atua como um reservatório) e nas fezes de pinguins-gentoo (Pygocelis papua) e pinguins-rei (Aptenodytes patagonicus).[Bessa, 2019; Le Guen, 2020]


No entanto, ressalta-se que a real dimensão e o impacto da poluição na Antártida ainda são limitados.[Waller, 2017] A falta de padronização nas metodologias de pesquisa impede uma medição precisa e a comparação dos dados, reforçando a necessidade urgente de mais estudos sobre o tema.[Suwaki, 2025]


Referências


Bessa, F., Ratcliffe, N., Otero, V., Sobral, P., Marques, J. C., Waluda, C. M., & Xavier, J. C. (2019). Microplastics in gentoo penguins from the Antarctic region. Scientific Reports, 9, 5499. https://doi.org/10.1038/s41598-019-50621-2


Suwaki, Caroline Harumy; Fabio Junior, Luiz Carlos (2025) XXXV. Microplásticos no ambiente antártico. Consultado em 19/08/2025

https://www.io.usp.br/index.php/oceanos/textos/antartida/1315-xxxv-microplasticos-no-ambiente-antartico.html 


Dawson, A., Huston, W., Kawaguchi, S., King, C., Cropp, R., Wild, S., & Bengtson, N. S. (2018). Uptake and depuration kinetics influence microplastic bioaccumulation and toxicity in Antarctic krill (Euphausia superba). Environmental Science & Technology, 52(8), 3195–3201. https://doi.org/10.1021/acs.est.7b05759

Derraik, J. G. B. (2002). The pollution of the marine environment by plastic debris: A review. Marine Pollution Bulletin, 44(10), 842–852. https://doi.org/10.1016/S0025-326X(02)00220-5

Kelly, A., Lannuzel, D., Rodemann, T., Meiners, K. M., & Auman, H. J. (2020). Microplastic contamination in east Antarctic sea ice. Marine Pollution Bulletin, 154, 111220. https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2020.111220

Le Guen, C., Suaria, G., Sherley, R. B., Ryan, P. G., Aliani, S., Boehme, L., & Brierley, A. S. (2020). Microplastic study reveals the presence of natural and synthetic fibres in the diet of King Penguins (Aptenodytes patagonicus) foraging from South Georgia. Environment International, 134, 105303. https://doi.org/10.1016/j.envint.2019.105303

Thompson, R. C., Olsen, Y., Mitchell, R. P., Davis, A., Rowland, S. J., John, A. W., McGonigle, D., & Russell, A. E. (2004). Lost at sea: Where is all the plastic?. Science, 304(5672), 838. https://doi.org/10.1126/science.1094559

Waller, C. L., Griffiths, H. J., Waluda, C. M., Thorpe, S. E., Loaiza, I., Moreno, B., & Hughes, K. A. (2017). Microplastics in the Antarctic marine system: an emerging area of research. Science of the Total Environment, 598, 111130. https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2017.03.220  https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969717308148  


Extras

Monitoramento de microplásticos


Adventure Scientists - Global Microplastics Initiative

https://www.adventurescientists.org/microplastics.html 


Imagem do mapa dinâmico disponível nessa página.

Como Usar o Mapa:

  1. Clique nas setas duplas no canto superior esquerdo para ver a legenda e entender a simbologia.

  2. Cada círculo no mapa representa uma amostra de água. Clique em um deles para ver a concentração exata de microplásticos encontrada.

  3. Observe que o tamanho dos círculos é proporcional à quantidade de microplásticos por litro, oferecendo uma representação visual clara da poluição.


Palavras-chave


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