O termo imperialismo verde (também conhecido como eco-imperialismo, eco-colonialismo ou imperialismo ambiental) é uma expressão depreciativa que se refere à percepção de uma estratégia ocidental para influenciar os assuntos internos de nações, principalmente em desenvolvimento, em nome do ambientalismo.
Origens e Evolução do Conceito
A percepção cética do Relatório Brundtland (1987) por parte das elites do Terceiro Mundo foi sintetizada como "imperialismo verde" por Helge Ole Bergesen em 1988. Em 1999, Deepak Lal usou o termo com o mesmo significado em seu livro Green Imperialism: A Prescription for Misery and War in the World's Poorest Countries (Imperialismo Verde: Uma Receita para a Miséria e a Guerra nos Países Mais Pobres do Mundo).
No entanto, o mesmo termo é empregado de forma diferente no livro Green Imperialism: Colonial Expansion, Tropical Island Edens and the Origins of Environmentalism 1600–1860 (Imperialismo Verde: Expansão Colonial, Édens de Ilhas Tropicais e as Origens do Ambientalismo 1600–1860), de Richard Grove (1995). No trabalho de Grove, ele significa o impacto de ilhas tropicais utópicas em cientistas europeus baseados em dados, resultando no início do ambientalismo.
As primeiras menções dos termos colonialismo ambiental ou eco-colonialismo surgiram em conexão com as trocas de dívida por natureza a partir de 1989. Temia-se que programas de proteção ambiental, por mais bem-intencionados que fossem, pudessem ser percebidos como intrometidos e imperialistas. A criação de parques nacionais na África, em alguns casos, levou ao empobrecimento e deslocamento de populações locais.
Originalmente, eco-imperialismo (ou ecoimperialismo) era uma abreviação para "imperialismo ecológico", conceito desenvolvido por Alfred Crosby em seu livro homônimo. Contudo, seu significado mudou após a publicação de Eco-Imperialism: Green Power Black Death (Eco-Imperialismo: Poder Verde Morte Negra), de Paul Driessen, em 2003. O "eco-imperialismo" de Crosby refere-se à interferência com um efeito degradante no meio ambiente dos países-alvo, enquanto o de Driessen se refere à interferência com um efeito degradante na economia em nome da melhoria ambiental.
Aplicações do Termo e Exemplos Práticos
Durante a Batalha de Seattle, em 1999, a mídia apresentou o ambientalismo como uma nova forma de imperialismo, onde países ricos e desenvolvidos impõem suas preferências e prioridades ambientais aos países em desenvolvimento.
Vários governos europeus anunciaram boicotes à madeira da Malásia devido ao desmatamento insustentável, como mencionado por Mahathir Mohamad em 1999. O então primeiro-ministro da Malásia opôs-se aos boicotes, argumentando que "não estamos explorando as florestas sem uma boa razão. Precisamos de dinheiro. Temos que exportar madeira porque precisamos do câmbio sem o qual não podemos comprar o que queremos". A Autoridade Federal de Desenvolvimento de Terras (FELDA) acusou a União Europeia de "colonização econômica" por proibir o óleo de palma em biocombustíveis até 2020, visando frear o desmatamento. Em 2022, a Malásia ameaçou interromper a exportação de óleo de palma para a UE em resposta a novas regulamentações sobre desmatamento.
Em 2009, a Alemanha classificou a proposta francesa de tarifas de carbono como eco-imperialismo. Naquela época, as tarifas de gases de efeito estufa enfrentaram forte oposição de países em desenvolvimento como Índia e China, pois impactariam suas exportações.
A regulamentação transnacional de meta-padrão de biocombustíveis da União Europeia, que promove certos combustíveis sustentáveis, também levanta a questão do eco-imperialismo, pois se estende além da jurisdição da UE.
Em 2014, Joji Morishita, um comissário japonês, expressou suas preocupações sobre os apelos por uma caça sustentável de baleias da Comissão Baleeira Internacional com as palavras: "A questão da caça de baleias é vista como um símbolo de uma questão maior, às vezes no Japão... Você deve ter ouvido a palavra 'eco-imperialismo'".
O empréstimo de US$ 3,05 bilhões (2,4 bilhões de libras) do Banco Mundial para a usina de energia de Medupi (4.764 MW) na África do Sul gerou críticas por apoiar o aumento das emissões globais de gases de efeito estufa. No entanto, se a usina a carvão não fosse construída, haveria limitações significativas no desenvolvimento industrial do país.
A "Ordem Executiva sobre o Combate à Crise Climática em Casa e no Exterior" do presidente dos EUA, Joe Biden, foi descrita pelo Asian Times como imperialismo verde e uma política protecionista oculta, que protegeria empregos americanos da concorrência de "produtos baratos e poluentes".
Relação com o Neoliberalismo e Debates Políticos
O imperialismo verde é, por vezes, descrito como uma combinação de agendas ambientais globais e neoliberais amplas. Ele é percebido como resultando em uma política de comodificação de todos os recursos da Terra. Essa tendência de comodificação da natureza para fins ambientais também é conhecida como "vender a natureza para salvá-la" ou grilagem verde (green grabbing). O Comitê para a Abolição das Dívidas Ilegítimas cita a Usina Solar de Ouarzazate, no Marrocos, como um exemplo de grilagem verde, construída sem informar as comunidades vizinhas em terras de pastagem e que exportará parte da energia para a Europa.
Vozes críticas depreciam o ambientalismo como uma desculpa para dificultar o desenvolvimento econômico dos países em desenvolvimento. Críticos veem fontes de energia alternativas como algo distante da realidade, e os combustíveis fósseis como a chave para tirar populações inteiras da pobreza. Na década de 1990, nações em desenvolvimento, lideradas por Brasil, Índia e Cingapura, opuseram-se a emaranhar o comércio global com controles de poluição, chamando-os de protecionismo oculto que manteria empregos nos países desenvolvidos e privaria as nações pobres de suas vantagens competitivas.
A agenda de ONGs ambientalistas foi chamada de neocolonialismo e eco-imperialismo em 2022 por Japão, Peru, África do Sul, Quênia e Bolívia. O eco-imperialismo funciona, portanto, como um epíteto depreciativo.
De acordo com Anil Agarwal, um estudo de 1990 do World Resources Institute atribuiu a responsabilidade pelo aquecimento global aos países em desenvolvimento. Agarwal considerou este estudo falho, politicamente motivado e injusto, vendo-o mais como um fator de exacerbação da divisão Norte-Sul. Em seu artigo de 1991, ele chamou isso de um exemplo de colonialismo ambiental e culpou o superconsumo dos EUA pelo aquecimento global.
No entanto, uma pesquisa mundial dos anos 90, "Bicicletas, Sim — Sapatos Baratos, Não", realizada pela WorldPaper, mostrou que 66% dos participantes não concordavam em perceber as trocas de dívida por natureza como eco-colonialismo.
O colonialismo ambiental também se tornou um tema no livro Apocalypse Never: Why Environmental Alarmism Hurts Us All (Apocalipse Nunca: Por Que o Alarmismo Ambiental Prejudica a Todos Nós), de Michael Shellenberger. No The Wall Street Journal, John Tierney, um crítico de longa data do ambientalismo, escreveu que "Shellenberger apresenta um caso persuasivo, combinando lucidamente dados de pesquisa e análise de políticas com uma história do movimento verde e vinhetas de pessoas em países pobres sofrendo as consequências do 'colonialismo ambiental'".
Referências
Ariffin, Y. (2010). On the scope and limits of green imperialism. Peace Review, 22(4), 430-435.
Grove, R. H. (1996). Green imperialism: Colonial expansion, tropical island Edens and the origins of environmentalism, 1600-1860. Cambridge University Press.
Pedregal, A., & Lukić, N. (2024). Imperialism, ecological imperialism, and green imperialism: An overview. Journal of Labor and Society.
Pratt, L., & Montgomery, W. (1997). Green imperialism: Pollution, penitence, profits. Socialist Register, 33, 165-184.
Extras
Para mais referências e detalhes diversos sobre o tema:
en.wikipedia.org - Green imperialism
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