quarta-feira, 2 de julho de 2014

Observações sobre reciclagem



www.benefits-of-recycling.com


O próprio termo reciclagem

Seguidamente, vemos tanto na literatura técnica, quanto na divulgação e na cultura popular, o termo reciclagem associado somente à reutilização de um material sem este ser acrescentado a ou de outro, seu uso praticamente em conceitos de apresentação e estado que poderiam ser considerados de in natura a somente uma nova reconformação, como por exemplo pela fusão ou remoldagem. Nesta visão, existe a desconsideração do material de receber ou fazer parte do acréscimo menor a ou de outro (uma “aditivação”) e até mesmo em não ser processado além de certas variações de novos dimensionamentos e conformações, assim como limitações pela inadequação da composição do material recolhido para a reciclagem.

A recuperação de uma matéria-prima dentre outras

Para o primeiro caso que apontamos (matéria-prima entre outras matérias-primas), o vidro é um caso bem claro. Não se recolhe garrafas ou vidro de janelas, e simplesmente os funde e se reconforma, sejam em novas chapas de vidro de janela, seja em recipientes de qualquer tipo. Os cacos entram na composição de novas partidas de vidro, como parte de suas matérias-primas (o chamado no setor cullet), em taxas por exemplo de 30 a 40%.[1]


Portanto, o vidro é um exemplo de reciclagem de material como matéria-prima parcial do produto que é dito reciclado/reciclável.

Aditivação

Para o segundo caso (aditivação), espelhos são ditos frequentemente como irrecicláveis. Contendo metais como prata, estanho e alumínio, impossibilitam o uso direto de seus cacos como matéria-prima do vidro “trivial”. Mas os metais são removíveis por banhos ácidos e o vidro restante pode, mesmo com resíduos inviáveis de plena remoção, ser pulverizado e usado como aditivo abrasivo para diversos fins, tais como insumos abrasivos diversos (rebolos, lixas, discos de corte, etc) e materiais que necessitam certa abrasividade, como revestimentos para pisos e pisos aplicáveis. Adicione-se também a produção de produtos de vidro no qual a presença de resíduos metálicos não interferem nas características do produto, ou que venham até trazer vantagens estéticas sem riscos de toxicidade, como microesferas de vidro (utilizadas como abrasivo para jateamento), tijolos de vidro e vitrificações de peças diversas, como porcelanas de uso industrial e na construção.[2][3][4]
Observe-se que a reciclagem de lâmpadas fluorescentes é uma reciclagem de “múltiplas saídas”, com compostos responsáveis pela fluorescência (compostos fosfóricos), materiais do filamento e contatos e do mercúrio vaporizado no interior da lâmpada.[5][6]


É possível a reciclagem de material de lâmpadas para produção de material cerâmico, mesmo com as contaminações, quando considerada a nova produção de vidro.[7][8]


Deve-se agora definir o termo “carga”, seguidamente usado na indústria, por exemplo, de produtos de polímeros, os produtos plásticos. Um exemplo é o carbonato de cálcio, usado como carga para polímeros na produção de produtos plásticos nas mais diversas conformações.[9]
Assim, um polímero como o polietileno reciclado, não necessariamente será utilizado puro na conformação de novos produtos plásticos, onde entra nossa observação de que uma conceituação de reciclagem estanque a uma definição de material é limitada e portanto, inadequada.


O simples uso noutro dimensionamento

Pelo acima, podemos associar a questão de aditivação e carga com a reciclagem de materiais ditos irrecicláveis em determinada indústria bem específica, que é de derivados de celulose, destacadamente, o papel. O papel vegetal, assim como outros com certos tratamentos é dito irreciclável, assim como já na indústria a chamada “borra de celulose” (embora esta possa ter aplicação direta).[10][11][Nota 1] Porém, estes materiais, fragmentados em granulometria adequada, podem ser adicionados como carga em madeira plástica, que é um produto com grande capacidade e variedade na absorção de cargas e aditivos diversos.[12]

Devem-se considerar também aqui os derivados aglomerados de celulose e madeiras, como o MDF (Medium-Density Fiberboard), MDP (Medium Density Particleboard) as chapa de fibra de madeira e suas possíveis aditivações.[Nota 2]

Um caso similar, também como aditivo de madeira plástica, é o poliestireno, que apresenta conformações e aditivações que são ditas normalmente irrecicláveis, como na forma de copos e nas espumas tipo isopor, ainda que processos de reciclagem destas conformações estejam sempre em desenvolvimento.[12][13][14][15]


Os empecilhos de certas composições em certas aplicações


O alumínio apresenta em sua reciclagem certas limitações devido á formulação das ligas, ou concentração na reciclagem de alguns componentes. As ligas com uso estrutural ou no setor aeronáutico exigem características de resistência mecânica, resistência às variações de temperatura e à fadiga que só são propiciadas com determinadas composições e tratamentos térmicos, e impossibilitam a simples reciclagem de seus usos menos nobres, como as dominantes na reciclagem embalagens de bebidas. Já por exemplo a presença de sílica impossibilita, mesmo com determinadas formulações de liga na entrada, da fundição de pistões com reciclos de sobras de materiais já fundidos, pois cria núcleos de alta dureza que dificultam a precisa usinagem das peças, além de poder danificar as ferramentas.[16][17]



A mudança de conformação


Finalmente, um exemplo clássico de reciclagem sequer com nova conformação (como é sempre o caso dos metais como os universalmente reciclados alumínio e o cobre) são os produtos cerâmicos, como os utilizados na construção civil. A argila dos tijolos, sinterizada, é caracteristicamente inviável sobre todos os aspectos de ser reciclada (observemos que não se pode fabricar tijolos com fragmentos de tijolos, da mesma maneira que não se fabrica argamassa e cimento com restos destes). Mas os tijolos fragmentados, e nem trata-se aqui de granulometria que poderíamos dizer fina, mesmo sem eliminar-se resíduos de rejuntes de argamassa e cimento, servem de agregado para os mais diversos fins na indústria da construção civil.[18][19][20][21][22]

O gesso não possui uma reciclagem economicamente viável em via direta, a não ser em determinadas escalas macro, mas pode ser reutilizado como aditivo de determinadas aplicações de concreto, como adicional ao calcário para correção de pH do solo e como insumo na confecção de novas peças para o setor de construção civil.[23][24][25][26]


Um caso emblemático é reciclagem como agregado da embalagem longa vida ou cartonada, composta de plástico, alumínio e papel, que é de difícil separação em seus constituintes pela sua complexidade e características. Independente dos processos como os relacionados ao uso de plasma, sua fragmentação permite a adição à polímeros e outros materiais para a conformação de placas, como para isolamentos e coberturas.[27][28][29][30]


Notas

1. Entre os tipos de papel não reciclaveis, citam-se os papéis que foram alterados com o seu uso, como o papel engordurado, papel toalha e papel higiênico, guardanapos e “jogos americanos” descartáveis. Como papéis tratados e revestidos, citam-se o papel carbono, o celofane, os papéis plastificados, o parafinado, o papel de fax e para impressoras térmicas, o metalizado, o laminado, o papel vegetal e o siliconizado.

É de se observar que alguns destes papéis não-recicláveis processados contaminando os recicláveis trazem problemas no processo.


2. Chapas de fibras de madeira são produzidas com fibras de madeira, predominantemente de eucalipto, prensadas a quente por meio de um processo úmido, que reativa os aglutinantes naturais da própria madeira e confere alta densidade aos produtos. MDF, Medium Density Fiberboard, em português, placa de fibra de média densidade, trata-se de placas de madeira reconstituída, produzidas por meio da aglutinação de fibras de madeira com resinas sintéticas e aditivos. MDP (Medium Density Particleboard) é um painel de aglomerado constituído de partículas de madeira aglutinadas entre si, principalmente com o uso de resinas ureicas, mediante a ação de temperatura e alta pressão.


Referências


1. Reciclagem de Vidro - www.msvidros.com.br
2. Espelho: prata, estanho e alumínio impedem reciclagem - www.ecycle.com.br

3. Rosane Felice de Oliveira; Confecção de discos de desbaste a partir de Al2O3 e pó de vidro
- www.dominiopublico.gov.br

4. Isabella M. VargasI; Hélio WiebeckI; Reciclagem de vidro laminado: utilização dos vidros de baixa granulometria como carga abrasiva na formulação de vernizes de alto tráfego para pisos de madeira; Polímeros vol.17 no.2 São Carlos Apr./June 2007 -  www.scielo.br

5. Reciclagem de lâmpadas fluorescentes no Brasil -
gestao.coletasolidaria.gov.br


6. Descontaminação e Reciclagem de Lâmpadas fluorescentes - www.apliquimbrasilrecicle.com.br


7. Fernanda Andreola, Luisa Barbieri, and Isabella Lancellotti; End of Life-Materials: WEEE Glass Recovery in Construction Sector; SUSTAINABLE CONSTRUCTION MATERIALS. AND TECHNOLOGIES. June 28 - June 30, 2010. Ancona, Italy - www.claisse.info


8. A.P. Luz, S. Ribeiro;  Use of glass waste as a raw material in porcelain stoneware tile mixtures; Ceramics International 33 (2007) 761–765 - thaiceramicsociety.com

9. COMPOSTOS PLÁSTICOS CARREGADOS - http://leopolymer.com.br/infor.html
10. Moeses Andrigo Danner, et al; Fontes de cálcio aplicadas no solo e sua relação com a qualidade da uva ‘vênus’; Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, v. 31, n. 3, p. 881-889, Setembro 2009. - www.scielo.br


11. Vitor Corrêa de Mattos Barretto, Orientador: Prof. Dr. Sérgio Valiengo Valeri; RESÍDUOS DE INDÚSTRIA DE CELULOSE E PAPEL NA FERTILIDADE DO SOLO E NO DESENVOLVIMENTO DE EUCALIPTO - Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias – UNESP, Campus de Jaboticabal, 2008. - www.fcav.unesp.br


12. Francisco Quiumento; Madeira Plástica - Um material ecológico por natureza, Scientia -


13. Copo descartável: item ganha status de ‘vilão’ da sustentabilidade em Manaus -


14. HELINE MENDES SOARES, GUIMES RODRIGUES FILHO, DANIEL ALVES CERQUEIRA, ROSANA M. N. DE ASSUNÇÃO; RECICLAGEM DE COPOS PLÁSTICOS E BANDEJAS DE ALIMENTOS À BASE DE POLIESTIRENO PARA A RECUPERAÇÃO DE PRATA DE RESÍDUOS DE EMPRESAS REVELADORAS DE FOTOS; VIII Encontro Interno - XII Seminário de Iniciação Científica - Universidade Federal de Uberlândia - ssl4799.websiteseguro.com


15. Débora Motta; Brasileiros desenvolvem método inédito para reciclagem de plástico - www.inovacaotecnologica.com.br


16. Fundamentos e Aplicações do Alumínio - ABAL - ftp.demec.ufpr.br
17. DANIEL FERNANDES DA CUNHA; Influência do Teor de Silício na Usinabilidade da Liga de Alumínio 6351 - Avaliada Através de Força de Corte e Acabamento Superficial; Dissertação; Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Engenharia Mecânica, 2012. -


18. USOS RECOMENDADOS PARA AGREGADOS RECICLADOS - www.abrecon.com.br


19. Rosângela dos Santos Motta, Liedi Légi Bariani Bernucci, Edson de Moura; APLICAÇÃO DE AGREGADO RECICLADO DE RESÍDUO SÓLIDO DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM CAMADAS DE PAVIMENTOS; ANPET - XVIII Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes - www.cbtumetrorec.gov.br


20. Geilma Lima Vieira, Denise Carpena Coutinho Dal Molin; Viabilidade técnica da utilização de concretos com agregados reciclados de resíduos de construção e demolição; Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 4, n. 4, p. 47-63, out./dez. 2004. - ISSN 1415-8876 - seer.ufrgs.br


21. Thaísa Ferreira Macedo, et al.; Investigação dos resíduos da construção e demolição (RCD) para fins geotécnicos; ELECS 2013 - www.elecs2013.ufpr.br


22. SILVA, C. A. R. da. Estudo do agregado reciclado de construção civil em misturas betuminosas para vias urbanas. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, 2009. - der.mg.gov.br


23. Manual de reciclagem de gesso - planetasustentavel.abril.com.br


24. Abrahão Severo Ribeiro; PRODUÇÃO DE GESSO RECICLADO A PARTIR DE RESÍDUOS ORIUNDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL; Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Federal da Paraíba para obtenção do grau de Mestre; João Pessoa – PB, Março de 2006 - www.ct.ufpb.br


25. Sayonara Maria de Moraes Pinheiro; GESSO RECICLADO: AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES PARA USO EM COMPONENTES;  Tese; UNICAMP; Campinas, 2011. - pct.capes.gov.br


26. Felipe José de Farias Nascimento, Lia Lorena Pimentel; REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUO DE GESSO; Anais do XV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 26 e 27 de outubro de 2010. - ISSN 1982-0178 - www.puc-campinas.edu.br


27. Neves, F.L., "Reciclagem de Embalagens Cartonadas Tetra Pak", Revista O Papel, fev,1999 ( p.38-45). - www.ablp.org.br


28. Neves, F.L., "Novos desenvolvimentos para reciclagem de embalagens longa vida", 37˚ Congresso Internacional de Celulose e Papel, São Paulo, Outubro, 2004. - www.afcal.pt


29. Cerqueira, M., "Placas y Tejas producidas a partir del reciclado del Polietileno/Alumínio presentes en los embalajes Tetra Pak" , Tecnología y Construcción vol 18- 3, p.47-51, Instituto de Desarrollo Experimental de la construcción/IDEC. Facultad de Arquitectura y Urbanismo – Universidad Central de Venezuela, 2004. - www.buenastareas.com


30. Abreu,M., "Reciclagem de Embalagens Cartonadas Tetra Pak para Alimentos Líquidos", Revista O Papel, p. 91-96, Abril, 2002. - www.tetrapak.com



Leituras recomendadas

Merece uma tradução: en.wikipedia.org - Glass recycling

Nenhum comentário:

Postar um comentário