O crescimento da produção de etanol de milho tem gerado uma preocupação crescente sobre o esgotamento dos aquíferos, especialmente na região do Meio-Oeste dos Estados Unidos. Embora a produção de biocombustíveis seja frequentemente apresentada como um motor para o desenvolvimento rural, especialistas alertam para o impacto significativo que essas usinas têm sobre o abastecimento de água subterrânea.
O alto consumo de água na produção de etanol
Professor Jerald Schnoor, da Universidade de Iowa, destacou em um simpósio de energia de biocombustíveis que as instalações de produção de etanol de milho demandam grandes quantidades de água de alta pureza durante o processo de fermentação. Essa água é obtida de aquíferos subterrâneos. Em Iowa, por exemplo, onde a produção de etanol atingiu um ponto crítico, o abastecimento de água do estado está ameaçado. Já em 2009, geólogos de Iowa alertaram que o aquífero Jordan estava sendo bombeado a uma taxa insustentável em vários condados, superando a linha de base de 1975 do estado nas duas décadas seguintes.
Schnoor estima que até três quartos das lavouras de milho em Iowa são dedicadas à produção de etanol, intensificando a pressão sobre as fontes de água subterrânea. Ele citou a Lincolnway Energy Plant em Nevada, Iowa, como um exemplo. Essa usina, mesmo sendo mais antiga e menos eficiente, produz 50 milhões de galões de etanol anualmente processando 100.000 acres de milho, e requer impressionantes 200 milhões de galões de água por ano. Mesmo com um relatório da própria usina indicando um consumo anual de 100 milhões de galões, o uso de água é descrito como "significativo".
Concentração de consumo e impacto local
Um relatório de 2007, também de autoria de Schnoor para a Academia Nacional de Ciências, aponta que o uso da água em biorrefinarias, por ser concentrado em uma área menor, pode gerar efeitos locais substanciais. Uma biorrefinaria que produz 100 milhões de galões de etanol por ano, por exemplo, utilizaria o equivalente ao abastecimento de água de uma cidade com cerca de 5.000 pessoas. A situação é ainda mais grave no oeste dos Estados Unidos, onde o milho precisa ser irrigado devido à menor confiabilidade da precipitação, aumentando ainda mais a pressão sobre o abastecimento de água subterrânea.
Schnoor enfatiza que "as pessoas não percebem que estamos esgotando insustentavelmente esses aquíferos" e defende o fim da expansão do uso de biocombustíveis por essa razão.
Dilema socioeconômico e preocupações locais
Apesar das preocupações com a água, estudos mostram que as comunidades que abrigam essas usinas de etanol muitas vezes veem os projetos com bons olhos. Theresa Selfa, professora da State University of New York, em um estudo de 2011 sobre os impactos socioeconômicos do etanol de milho em pequenas comunidades no Kansas e Iowa, descobriu que, apesar dos impactos percebidos no abastecimento de água, as comunidades se mostravam orgulhosas das usinas.
A razão para essa percepção positiva reside, em parte, nas taxas de pobreza relativamente altas nessas comunidades. Os moradores valorizam o impulso, mesmo que pequeno, na economia local, já que "essas usinas não geram muitos empregos diretos". Como disse um morador de Russell, Kansas, no estudo de Selfa: "Qualquer emprego nesta cidade é melhor do que nenhum".
Além disso, em comparação com os impactos ambientais de outras indústrias no Meio-Oeste, como confinamentos, refinarias de petróleo e frigoríficos, a indústria do etanol parecia "bastante benigna". No entanto, a preocupação com os recursos hídricos é real: em Russell, onde há uma usina da U.S. Energy Partners, 67% dos membros da comunidade expressaram preocupação com a água utilizada pela usina. Em maio de 2012, Russell foi colocada sob restrições de água devido à seca, sublinhando a gravidade do problema.
A questão do etanol de milho e o esgotamento dos aquíferos é um exemplo complexo onde os benefícios econômicos imediatos se chocam com as preocupações ambientais de longo prazo. É crucial considerar o equilíbrio entre a produção de energia e a sustentabilidade dos recursos naturais, especialmente a água, para garantir um futuro viável.
Referências e Sugestões de Leitura
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema do etanol de milho e seus impactos nos recursos hídricos, recomendamos as seguintes fontes e leituras:
Artigos e Relatórios Científicos:
Schnoor, J. L. (2007). Water and Biofuels: Effects on the Water Environment from Growing Biofuels. National Academy of Sciences. (Este é o relatório mencionado no texto, fundamental para entender o impacto hídrico das biorrefinarias).
Selfa, T., & Humphrey, S. (2011). Ethanol, rural community change, and the dilemmas of development in the American Midwest. Journal of Rural Studies, 27(1), 1-11. (Estudo que aborda os impactos socioeconômicos do etanol de milho em pequenas comunidades).
Artigos da University of Iowa sobre pesquisa em água e sustentabilidade: O departamento de Engenharia e Ciências Ambientais da Universidade de Iowa frequentemente publica pesquisas sobre o uso da água e as consequências da agricultura e produção de energia.
Notícias e Artigos de Divulgação:
Publicações de notícias especializadas em energia e meio ambiente: Veículos como Environmental Health News, Scientific American e National Geographic frequentemente publicam artigos sobre biocombustíveis e seus impactos ambientais.
Relatórios e alertas de agências de recursos hídricos: Órgãos governamentais estaduais e federais nos EUA (como o USGS - United States Geological Survey) monitoram o estado dos aquíferos e publicam relatórios sobre taxas de bombeamento e sustentabilidade.
Organizações e Instituições:
National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine: Produzem relatórios e estudos abrangentes sobre uma variedade de tópicos científicos, incluindo energia e meio ambiente.
Environmental Working Group (EWG): Organização que realiza pesquisas e advocacy sobre questões de saúde ambiental, incluindo a agricultura e o uso da água.
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