terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Pequenas notas ambientais - 4


Metano de vacas e flatulências de argumentos


Ouvi entrevista na CBN com pesquisadores que apontam que a bovino-cultura brasileira não é um problema quando trata-se de emissão de GEE.



Imagem do vídeo “Mata de Eucalipto 7 anos” - YouTube


Resumo dos erros que percebi na argumentação:


1

Coisa triste ver ditas autoridades em gases de efeito estufa dizerem q a emissão de bois diminui quando o boi é abatido mais cedo.

Esclarecendo mais o ponto: 

Como se ao crescer, até com diferentes taxas de ganho de peso (!), a produção não se aproximasse de uma óbvia média, e havendo uma taxa de bois alimentando-se (uma população) não produzisse uma taxa de emissões, que portanto, não é propriamente dependente e proporcional ao boi (indivíduo) e quanto ele vive.


2

O boi durando menos é substituído, logo não é sua vida, mas sua taxa e população.

Citemos:

“A idade para o abate varia de 18 meses até os 4 anos para um bovino ser considerado gado de corte . A partir dessa idade, a carne do nelore vai ficando cada vez mais barata por causa da diminuição da qualidade da mesma. Por isso, é aconselhável para o pecuarista a venda desse animal a partir dessa idade.” - www.fazendasantanna.com.br

De onde, entre 8 bois durando 1,5 anos (18 meses), o que resulta 12 “bois-anos”, produzem aproximadamente mesma massa de metano que 3 bois durando 4 anos, os mesmo 12 “bois-ano”.


3

Triste também é colocarem que o pasto absorve, pois entra na taxa dos animais, pois é consumido e não há fixação.


Nota: O enorme volume de C (carbono) fixo em florestas, mesmo que temporariamente* não é prejudicado pela formação de pasto, basicamente gramíneas?

*Pois só a erosão e a sedimentação, realmente, fixa o carbono em seus “esconderijos”.


4

Triste o plantio de eucaliptos com gado. Vida curta da árvore, absorção de água, competitiva, não nativa e pouca fixação de carbono. 

Ataque-se um problema desde o primeiro momento: as folhas de eucalipto são inadequadas ao consumo de bovinos. (Em contrapartida, e adiante entender-se-á este ponto, a tóxica “jurema-negra”, nativa do nordeste pode ser consumida em até 25% em peso da ração de caprinos.)


Destaque-se, os coalas, entre os mamíferos, não os únicos animais a se adaptarem a consumir o eucalipto, e tal é tão complexo, devido à toxicidade das folhas que as crias dos coalas primeiro alimentam-se das fezes das mães até terem suficiente flora bacteriana apta a digerir as folhas.



"O eucalipto vem da Austrália, onde tem quem coma as suas folhas. Mas em Portugal não existem Koalas!" - Bucólico Anónimo


É de se discutir se todas as variedades de eucalipto tornam o terreno ao seu redor tóxico por secreção de substâncias. Aliás, eu não posso sequer afirmar que exista uma única espécie que o faça. Mas o que é certo, igualmente para os pinheiros de reflorestamento no sul do país e em certas altitudes de São Paulo (Pinus elliottii), é que estas árvores de ambiente extremamente competitivo pois carente de recursos (a aridez australiana e as proximidades do círculo polar ártico) levam as plantas a produzirem, pela perda de folhas, uma certa dificuldade do solo ser ocupado por outras plantas.

Para perceber-se isso, basta visitar um reflorestamento e observar o solo, tão diferente da abundância de vegetação de uma Mata Atlântica ou de uma mata de araucárias, repletas especialmente de samambaias e bromélias específicas de cada bioma.


Apêndice

Pontos que me foram questionados pelas redes sociais:

A1

“Se preocuparam apenas com a competição pela luz... Não seria fixação de nitrogênio?”

Definitivamente, entenda-se que emissão de metano sempre resulta em dióxido de carbono CO2 pela oxidação atmosférica (com certa ação de combustões diversas e ultravioleta solar). Ao fim, obtem-se o mesmo resultado o mesmo.

A2

“Sou quase que obrigado a perguntar:
Qual a solução pra isso, porque a população está crescendo e pessoas comem....?”


Plantar árvores nativas, biocarvão que absorve CO2 e preparar o mundo para cortar a marcha rumo à tragédia malthusiana (posição neomalthusiana, que ainda tenho que devidamente explicar).

Sempre sugiro como exemplo básico de reflorestamento na Mata Atlântica o Guanandi:


Referências e recomendações de leitura


Destaquemos:

“O manejo intenso dos eucaliptos e as substâncias químicas que resultam da decomposição das folhas acabam modificando o ambiente, impedindo que a floresta nativa se recupere.”

  • DESERTO VERDE- Os impactos do cultivo de eucalipto e pinus no Brasil; Repórter Brasil – Organização de Comunicação e Projetos Sociais, 2011. reporterbrasil.org.br   ( Nos nossos arquivos: Caderno deserto verde )

Destaquemos:

“Uma das questões mais controversas envolvendo o setor diz respeito aos impactos ambientais gerados pelos plantios de eucalipto e pinus, sobretudo, às avaliações de que essas árvores exóticas consomem muita água e contribuem para a diminuição do fluxo de de rios e córregos – e até para a seca completa. O setor empresarial defende a atividade de “florestas plantadas” como ambientalmente correta e enumera pontos positivos, como a alta taxa de sequestro de gás carbônico (um dos vilões do aquecimento global) e a restauração de áreas degradadas, principalmente, por pastagens. Também considera um verdadeiro mito as acusações de que o eucalipto consome muita água e contribui para a degradação das fontes hídricas.

Por outro lado, ambientalistas e entidades de luta pela terra preferem chamar as plantações de “deserto verde” e sustentam que as monoculturas não podem ser consideradas “florestas”, devido à pequena biodiversidade em seu interior. Apoiados nos conhecimentos de comunidades tradicionais e de pequenos agricultores, essas entidades defendem o ponto de vista de que as plantações podem, sim, gerar drásticos impactos hidrológicos.”


  • Guanandi surge como opção para reflorestamento com madeira de lei - g1.globo.com


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